quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O Real/Naturalismo no Brasil - contexto histórico

O fim da Guerra do Paraguai (1865-1870) determina o fim da legitimidade da monarquia brasileira junto A parcelas consideráveis da população.

Nem a vitória militar revigora o regime. Ao contrário, os oficiais do Exército, em seu retorno, recusam-se a perseguir os escravos fujões e começam a ser atraídos por idéias positivistas e republicanas.

Na sociedade civil, especialmente a urbana, um forte sentimento oposicionista toma conta dos setores médios e do público jovem.

No Nordeste, arruinado economicamente, surge a geração contestadora dos anos de 1870.

Sílvio Romero, Tobias Barreto e outros agitam um punhado de novas ideologias. De Comte a Taine, tudo que é...


anti-monárquico, anti-clerical, anti-escravocrata e anti-romântico...


... encontra eco na rebelde cidade do Recife. Já no início da década, Sílvio Romero, influenciado por teorias realistas, passa o atestado de óbito da poesia romântica, acusando-a de "lirismo retumbante e indianismo decrépito".

As mortes de Castro Alves, em 1871, e a de José de Alencar, em 1877, representam o fim de um ciclo literário, ainda que tanto o poeta baiano como o romancista cearense já se aproximassem, no fim de suas vidas, de uma expressão mais objetiva e menos idealista da realidade.

De qualquer forma, o Romantismo e o II Império tinham estado muito próximos e agora ambos iriam passar por uma longa agonia, à espera do último suspiro.

A sociedade, no entanto, continua se movendo, exigindo mudanças.

Em São Paulo, uma nova elite cafeicultora se distingue dos velhos barões do café, do Vale do Paraíba, por seu ideário modernizador: preferem imigrantes a escravos em suas lavouras e não são totalmente hostis à nascente atividade industrial.

Levas de imigrantes chegam, ora para o trabalho assalariado nas fazendas, ora para a ocupação de pequenas propriedades, no sul do país.

Graças a seus hábitos de poupança e a seus conhecimentos técnicos, muitos deles migrarão para as cidades, constituindo pequenas indústrias semi-artesanais.

Em 1884 a província do Ceará decreta a liberdade dos escravos, pondo-se a frente do processo abolicionista.

No Rio Grande do Sul, um grupo de jovens bacharéis cria um partido republicano de forte tendência autoritário-positivista, cuja culminância política seria atingida, quarenta anos depois, com Getúlio Vargas.

Os cadetes e os jovens oficiais do Exército ouvem cada vez mais as pregações ardentemente republicanas de Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.

Tudo se move, menos a pesada estrutura política do Império.

Isolado do vozerio das ruas, o Imperador prefere fazer longas viagens pelo mundo que chegam a durar dois anos.

A ordem imperial é mantida apenas por grupos de latifundiários conservadores que luta contra a abolição, e por uma espécie de respeito coletivo pela figura venerável de D. Pedro II.

O fim da escravatura, em 1888, elimina o apoio dos senhores rurais e toda a nação parece esperar a morte do monarca para a proclamação da República.

Mas esta vem antes, por uma ação quase solitária do marechal monarquista Deodoro da Fonseca, em novembro de 1889.

Ainda que nascesse de um golpe de estado e não tivesse nenhuma proposta radical de alteração do status quo, a República contará com significativo apoio popular e trará progresso para o País, sobremodo a partir da virada do século. Uma grande era de inércia estava se acabando.